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A pandemia do novo coronavá­rus é o pior momento de saúde pública da história de  Capanema?

Para tentar responder esta pergunta, nossa equipe entrou em contato com o PhD em História, Professor Doutor Luciano Demetrius
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CORONAVáRUS VS GRIPE ESPANHOLA

Com o aumento das mortes por causa do coronavá­rus e milhares de paraenses prejudicados economicamente, especula-se que este seria o pior momento de saúde pública do capanemense. Será¡?

Para tentar responder esta pergunta, nossa equipe entrou em contato com o PhD em História, Professor Doutor Luciano Demetrius, que gentilmente escreveu um artigo focado na história das epidemias e pandemias que tiveram consequáªncias em Capanema e na região.

O novo coronavá­rus foi identificado há¡ 8 meses, e, desde então, passamos a contabilizar números cada vez maiores de novos casos. Até a data da publicação deste artigo, tá­nhamos mais de 333 mil mortes no mundo. Este número é pequeno se comparado ao da “Gripe Espanhola”, que varreu as principais cidades do mundo e matou de 40 milháµes a 50 milháµes de pessoas de 1918 a 1920. Pra gente ter uma ideia tecnológica e cientifica da época, somente 10 anos (1930) após a imunização natural o vá­rus responsá¡vel pela gripe espanhola foi conhecido e a primeira vacina só foi fabricada em 1944. Estima-se que a doença tenha matado mais 35mil pessoas no Brasil.

Segundo o Professor Luciano, no inicio do Século XX, Capanema era um dos pontos de parada da antiga estrada de ferro, que, além do progresso, trouxe o vá­rus da Influenza (Gripe Espanhola): “Ainda neste mesmo perá­odo, a chegada, possivelmente através da Estrada de Ferro Bragança, do vá­rus da influenza, causador da pandemia popularmente conhecida como “gripe espanhola”, também foi responsá¡vel por muitas vá­timas fatais em praticamente toda Região Bragantina, também deixando suas marcas nas famá­lias capanemenses.” Afirmou o Professor.

Vamos deixar voc᪠com uma viagem no tempo de nossa história recente, com as palavras do brilhante professor Luciano Demetrius:

 

 EPIDEMIAS E PANDEMIAS EM CAPANEMA
Por: Luciano Demetrius

 O mais grave era o desespero que se apossava da pessoa ao sentir-se atacado: imediatamente perdia a esperança e, em lugar de resistir, entregava-se inteiramente. Contaminavam-se mutuamente e morriam como rebanhos (TUCáDIDES, apud LOPES, 1969, pp. 161-162).

Desde suas origens, em princá­pios do século XX, a antiga vila, hoje transformada no municá­pio de Capanema, localizado na Região Nordeste do Estado do Pará¡, teve suas populações atingidas e vitimadas por sucessivas epidemias ou pandemias responsá¡veis por grande preocupação e mortalidade. Assim, se a “doença pertence á  história, em primeiro lugar, porque não é mais do que uma ideia (…) numa complexa realidade empá­rica” (LE GOFF, 1985, p. 7-8). As enfermidades também tiveram profunda relação com as transformações sociais, com as representações e mentalidades de uma pequena comunidade com pouco mais de um século.

Entre as décadas de 1910 e 1920, os moradores de Capanema já¡ sofriam com a incidáªncia de diversas doenças, uma das mais aflitivas para a população da vila era o paludismo (Malá¡ria), que em vá¡rios documentos analisados, havia ocasionado o óbito de muitos habitantes, atingindo homens e mulheres de idades diversificadas. Ainda neste mesmo perá­odo, a chegada, possivelmente através da Estrada de Ferro Bragança, do vá­rus da influenza, causador da pandemia popularmente conhecida como “gripe espanhola”, também foi responsá¡vel por muitas vá­timas fatais em praticamente toda Região Bragantina, também deixando suas marcas nas famá­lias capanemenses.

O fim da pandemia de influenza, responsá¡vel por dezenas de casos na localidade, não representou de forma alguma o desaparecimento ou mesmo diminuição da ocorráªncia de doenças epidáªmicas em Capanema, cuja população continuou sendo assolada por outros males nas décadas seguintes, a exemplo do sarampo, catapora e da Lepra ou hansená­ase,  uma infeção crá´nica causada pelas bactérias Mycobacterium leprae ou Mycobacterium lepromatosis, e cujas autoridades municipais nas décadas de 1930 e 1940, faziam inclusive contribuições para a chamada Liga contra a Lepra, cujas taxas haviam sido estabelecidas pelo Interventor Magalhães Barata através do Decreto nª 620 de 30 de junho de 1932.

Ao lado destes males que atingiam a população municipal, havia o recorrente problema da falta de estrutura médico-hospitalar agravado pela pobreza econá´mica e analfabetismo que assolava grande parte dos moradores, contribuindo para que a incidáªncia de óbitos decorrentes de doenças virais ou bacterianas fosse bastante elevada ao longo de grande parte do século XX.

No século XXI, quando se imaginava que a ocorráªncia de epidemias ou pandemias com grande mortalidade fossem amenizadas ou até prevenidas, com a expansão da indústria farmacáªutica, pelo desenvolvimento de novos tratamentos médicos e a expansão do conhecimento cientá­fico, eis que o mundo é surpreendido pela letalidade, rá¡pida transmissão e, principalmente pelo desconhecimento de tratamentos imediatos frente a ameaça do Covid-19, que a partir da China se difunde e amedronta grande parte do mundo.

Capanema e as demais cidades brasileiras, como “pequenos fragmentos da aldeia global”, foram intensamente atingidas pelo “novo mal”, tendo sua população e economia profundamente prejudicadas pelo avanço da pandemia, que assim como em grande parte do mundo também deixou muitas vá­timas fatais.

Por fim, mesmo concordando com Bocaccio ao expressar sobre os sofrimentos ocasionados pela peste bubá´nica no século XIV, argumentando que entre “tanta aflição e tanta miséria de nossa cidade, (…) tanto quanto outros homens, todos estavam mortos, ou doentes, ou haviam perdido os seus familiares” (BOCACCIO, 1979). O Covid-19, como outras doenças epidáªmicas que atingiram, mataram e trouxeram sofrimentos para grupos humanos, irão transformar-se apenas em tristes lembranças ou memórias para as futuras gerações, incorporadas em registros, pesquisas acadáªmicas e estudos históricos.       

BIBLIOGRAFIA

BOCACCIO, G. Decamerão. São Paulo, Victor Civita, 1979

LE GOFF, Jacques (org). As Doenças tem história. Lisboa: Terramar, 1985.

LOPES, O. C. A Medicina no Tempo. São Paulo, Edusp/Melhoramentos, 1969.

 

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